Data Publicação: 08/03/2022
Redação: COMUNICAÇÃO - SPDM/PAIS
Unidades de diferentes municípios respeitam as vontades da gestante e garantem que o parto aconteça da forma menos invasiva possível.
Fomos acostumados a ver filmes e novelas com cenas de mulheres dando à luz via parto normal, quase sempre deitadas em uma maca de barriga para cima, fazendo força, sozinhas, sem acolhimento e sem poder opinar sobre o momento único que estão vivendo. Felizmente, os tempos são outros e a mulher atualmente é vista como protagonista do próprio parto, graças à filosofia do parto humanizado.
Ao contrário do que muita gente pensa, o parto humanizado não acontece apenas quando ocorre via vaginal, sem anestesia, mas também no parto normal com analgesia (alívio da dor) ou até mesmo por cesárea. Tudo começou na década de 1980 quando um grande número de cesarianas eletivas (aquelas sem indicação médica) passou a acontecer no Brasil. Isso levou a um movimento contrário que defende a autonomia da mulher no momento do nascimento do próprio filho.
Mas afinal, o que significa parto humanizado? Não existe uma resposta única, porém é consenso dizer que a prática não se refere à via de parto (vaginal ou cesárea), mas ao tipo de assistência que a mulher recebe. Parto humanizado é quando há respeito pela parturiente nas suas escolhas e respeito pelo bebê visando seu bem-estar. "O termo humanização não se refere à via de parto (vaginal ou cesárea), mas ao nível de qualidade de assistência que a mulher recebe. Onde as decisões são compartilhadas e as escolhas da mulher são ouvidas e respeitadas", ressalta o médico Marcos Aurélio, diretor técnico do Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC), de Fortaleza (CE).
O parto humanizado permite que a mulher vivencie as fases do parto e respeita o tempo do bebê estar pronto para nascer. De acordo com a médica Ana Cristina Murai, a humanização do parto também é uma maneira de combater a violência obstétrica e, consequentemente, reduzir a taxa de mortalidade infantil e de mulheres que acabaram de dar à luz (puérperas). "Muito importante garantir uma boa prática assistencial com empatia e respeito aos princípios de integralidade, acolhendo a mulher de forma global e permitindo que o momento do parto seja uma experiência positiva na vida da mesma, sem intervenções desnecessárias que podem trazer um trauma para o resto da vida", destaca a diretora técnica da Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda, no Rio de Janeiro (RJ).
Plano de parto Uma das formas de se humanizar o parto é aceitar e respeitar o plano de parto, uma carta - ou uma simples lista - onde a gestante relaciona tudo o que gostaria ou não gostaria que acontecesse em seu parto. Com essas informações, a equipe assistencial pode conhecer um pouco mais a parturiente e saber antecipadamente das suas necessidades, crenças, anseios e receios. O plano de parto é uma ferramenta que pode garantir uma melhor qualidade na assistência do parto e uma experiência mais satisfatória dele. "Nós incentivamos, discutimos e propomos melhorias no plano de parto num constante diálogo com a mulher. Procuramos atender a todos os desejos da gestante, desde que isso não represente risco para a mãe e o bebê, durante o parto e após o nascimento", explica Fernanda Ribeiro, gerente da Casa do Parto de Sapopemba, em São Paulo.
Benefícios Os principais benefícios do parto humanizado para mãe e bebê são: - Participação ativa da mãe durante o parto; - A mulher não é submetida a anestesia, então ela pode se alimentar durante o trabalho de parto; - Direito a acompanhante de escolha da gestante, o que proporciona a ela conforto e segurança; - Fortalecimento do vínculo familiar com o recém-nascido; - Melhor recuperação com redução das chances de depressão pós-parto; - Menor tempo de internação (tendo alta em 24 ou 48 horas após o parto), com probabilidade reduzida de infecções; - Incentivo ao aleitamento materno nas primeiras horas de vida; - Contato pele a pele realizado logo após o nascimento, permitindo que o bebê se adapte à vida extra uterina de forma mais natural e confortável possível.
De acordo com Réria Santos, o contato pele a pele é um dos direitos assegurados ao bebê e sua mãe. "A ação mais importante para o bebê é mantê-lo junto da sua mãe imediatamente após o nascimento para que ele, ao sair do padrão de vida uterina, possa sentir na sua pele que está com sua mãe e sentir esse vínculo. Essa prática é obrigatória no Hospital Amparo Maternal, independente do tipo de parto da mulher", garante a enfermeira obstetra.
Parto cesárea É importante ressaltar que uma cesárea também pode ser feita de forma humanizada. Cesárea humanizada é a bem indicada, não aquela que simplesmente tem a luz da sala diminuída ou música ambiente. Se não houver informação, não se pode falar em humanização. Da mesma forma que não é possível discutir escolha se não houver esclarecimentos. Muitas mulheres ainda se perguntam se podem ter um parto humanizado (normal ou cesárea) pelo SUS. A resposta é sim, mas é recomendado que a gestante se informe com a equipe médica responsável pelo pré-natal sobre os locais de referência para o seu parto e busque saber quais são os requisitos necessários e como é a forma de atendimento nesses lugares. A SPDM/PAIS é responsável pela gestão de maternidades e de uma casa de parto, em parceria com as Secretarias Municipais de Saúde, que realizam atendimento gratuito e estão comprometidas com a prática do parto humanizado. Vamos conhecer um pouco mais sobre o trabalho realizado por elas?
Casa do Parto de Sapopemba - São Paulo A Casa do Parto de Sapopemba oferece atendimento a mulheres com gestação de baixo risco e que desejam o parto normal e humanizado, ou seja, sem intervenção cirúrgica. Podem ser atendidas na unidade, mulheres de qualquer região, acompanhadas no pré-natal pelo SUS ou não, a partir de 35 semanas de gestação, sem parto cesárea anterior e sem comorbidades. Todo o atendimento obstétrico é feito integralmente por enfermeiras obstétricas com longa experiência na área, apoiadas por auxiliares de enfermagem, que oferecem atendimento humanizado às gestantes e bebês por meio do acolhimento e vínculo desde a primeira visita e em todas as consultas até o parto, sempre respeitando a vontade da gestante durante toda a evolução do trabalho de parto, além de banho humanizado do recém-nascido e incentivo à amamentação logo após o nascimento. A unidade oferece métodos não farmacológicos para o alívio da dor durante o trabalho de parto, como banho terapêutico, hidromassagem, massagem nas costas, escalda pés, óleos, banqueta e exercícios na bola e barras. É possível que a parturiente seja acompanhada por dois acompanhantes de sua escolha. No segundo semestre de 2021, a unidade realizou 87 partos, todos eles normais e humanizados.
Hospital Municipal Pedro II - Rio de Janeiro Na maternidade do Hospital Municipal Pedro II, a presença de acompanhante de livre escolha da mulher, apresentação do recém-nascido logo após o nascimento, contato pele a pele e aleitamento materno na primeira hora de vida são algumas das rotinas praticadas no parto humanizado. Além disso, a gestante conta com um ambiente silencioso para a realização do parto e, se houver indicação e for da sua vontade, pode usufruir do Espaço Boas Práticas com bola, cavalinho, banquetas, barras de apoio, aromaterapia, musicoterapia, massagem, caminhada livre e chuveiros com água aquecida. No segundo semestre de 2021, o Hospital Municipal Pedro II realizou 1681 partos e destes, mais de 65% foram normais e humanizados.
Hospital Nossa Senhora da Conceição - Fortaleza Na capital cearense, o Hospital Nossa Senhora da Conceição (HNSC) é uma das referências em parto humanizado. A unidade garante a presença do acompanhante de livre escolha da gestante, seja parto normal ou cesárea, além de também respeitar os desejos e vontades da parturiente com base nas melhores evidências científicas e realizar a "hora de ouro", que abrange o contato pele a pele e amamentação na primeira hora de vida em recém-nascidos com boa vitalidade. A unidade trabalha com o modelo de quarto PPP, um espaço destinado ao pré-parto, parto e puerpério, privativo para cada mulher e seu acompanhante, onde a atenção aos três períodos do parto ocorre no mesmo ambiente. Estes quartos dispõem de banheiro com chuveiro quente e bola suíça redonda e em formato de feijão, que proporcionam melhora na amplitude pélvica e maior conforto às parturientes. A equipe de Enfermagem também realiza atividades de biodança, aromaterapia e cromoterapia durante o pré-parto e parto para favorecer a livre posição e movimentação da mulher. O HNSC também desenvolve uma estratégia lúdica de humanização do parto para gerar memórias positivas relacionadas ao parto e ao nascimento, oportunizando lembranças do período gestacional e das experiências vivenciadas na maternidade. O "Programa Arte no Parto" busca criar, a partir dos elementos que permeiam a gestação, recordações vivas que valorizem a força da mulher para gestar, parir e nutrir, desmistificando o paradigma do parto normal como lugar de sofrimento e dor. No segundo semestre de 2021, o Hospital Nossa Senhora da Conceição realizou 1402 partos, sendo 94% assistidos por enfermeiro obstetra e mais de 58% normais e humanizados. "Temos a menor taxa de cesárea do Estado do Ceará, dentre todas as maternidades públicas e privadas, conforme dados do Sistema Nacional de Nascidos Vivos (SINASC)", ressalta Jamylle Landim, coordenadora médica do Hospital.
Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda - Rio de Janeiro A Maternidade Maria Amélia Buarque de Hollanda (MMABH) é referência em partos humanizados no Rio de Janeiro. A assistência acontece desde o pré-natal com o auxílio na preparação da maternidade, paternidade e de toda família que irá receber o bebê, por meio de consultas ambulatoriais e cursos preparatórios sobre cuidados com o recém-nascido, amamentação e até direitos sexuais e reprodutivos. Assim como nas demais maternidades gerenciadas pela SPDM/PAIS, o parto cesárea também é humanizado na MABH. Isso acontece na unidade com a escolha de som ambiente, corte tardio do cordão umbilical, presença do acompanhante de escolha da mulher. No momento do nascimento, o contato pele a pele é estimulado, bem como a amamentação na primeira hora de vida. "A humanização está na garantia do protagonismo da mulher, numa indicação real de cesária baseada em evidências científicas e no olhar respeitoso e integrativo para o parto, independente da via", completa Marcos Nakamura, coordenador da Obstetrícia. A maternidade estimula a parturiente a realizar exercícios respiratórios e caminhadas, além de oferecer banho de chuveiro, bola suíça, assento móvel (cavalinho), massagem, spinning baby, rebozo, musicoterapia e técnicas para relaxamento. No Segundo semestre de 2021, a MMABH realizou 1965 partos e destes, 70% foram normais e humanizados.
Hospital Maternidade Amparo Maternal - São Paulo O Amparo Maternal também trabalha com o modelo de quarto PPP. No total, são seis PPP totalmente equipados para acolher as gestantes, mães e seus bebês, de forma integral e humanizada, oferecendo atendimento especializado e permitindo a presença do acompanhante e de Doula. Além de disponibilizar diversos métodos farmacológicos e não farmacológicos para o alívio da dor, como o banho terapêutico, o Hospital Amparo Maternal conta com o modelo de alojamento conjunto. "Depois do nascimento, o ideal para o bebê é permanecer ao lado da mãe. Na maternidade, o alojamento conjunto é o sistema hospitalar que permite que os dois fiquem juntos, por tempo integral, até a alta, que acontece 48 horas após o nascimento se estiver tudo bem com a mãe e o bebê. Além de favorecer o estreitamento do vínculo mãe/filho, o alojamento conjunto possibilita que os pais observem o recém-nascido durante todo o tempo", explica a enfermeira obstetra, Réria Santos. No Segundo semestre de 2021, o Amparo Maternal realizou 3107 partos e destes, mais de 70% foram normais e humanizados. Todos os estabelecimentos citados no texto são unidades das Secretarias de Saúde dos seus respectivos municípios gerenciadas em parceria com a SDPM/PAIS, Organização Social de Saúde.